Terceira ação de aprendizagem



ENTREVISTA COM UM/A PROFESSOR/A DO ENSINO FUNDAMENTAL


Em nossas aulas temos refletido sobre a elaboração das atividades didáticas, a proposição e vivências dos projetos de trabalhos, planejamento escolar, relação pedagógica, registros/avaliação e portfólios de aprendizagens. Para ampliar esse debate, propomos um desafio: que tal você desenvolver uma pesquisa sobre os processos avaliativos vividos por professores em sua cidade?

1.   FAÇA SUAS NOTAS DE CAMPO/DESCRITIVA (1ª ETAPA)
1 - Roteiro para anotações escritas[1]
Data da observação­­­­­­: 10 de agosto de 2013
Pesquisador(a)/estudante: Evanice Urbano da Silva
Número de participantes na entrevista: 01
NOTAS DE CAMPO/DESCRITIVA

ü Reconstrução de diálogos
ü Descrição de eventos especiais
ü Descrição de atividade
ü Os comportamentos dos observados
A entrevista foi realizada em um contexto extraescolar, com o objetivo de evitar a interrupção das atividades escolares da professora entrevistada. Destaca-se o caráter informal e descontraído do encontro, permitindo ir além de  aspectos contemplados no roteiro previamente elaborado, envolvendo a amostragem de materiais utilizados pela professora, trabalhinhos confeccionados pelos estudantes e alguns registros fotográficos feitos pela professora. Sobre as fotografias, aproveitou-se o momento para compartilhar o conhecimento construído através da disciplina Avaliação da Aprendizagem e sugerir a leitura do livro “O uso do portfólio no ensino superior”, escrito por Márcia Ambrósio.
A atividade iniciou-se com o convite prévio à educadora para que participasse da entrevista. Foram apresentados o assunto e o roteiro da entrevista. A educadora gentilmente aceitou a proposta e em data e local previamente combinados iniciamos a entrevista. Foram tomados os dados que permitissem a reconstituição das ideias apresentadas pela entrevistada, dentre as quais se destacam:
ü  Utilização de materiais utilizados nos anos anteriores e pesquisa de novos, de acordo com o nível da turma;
ü  Na sala de aula são realizadas conversas com os estudantes para que eles comentem sobre a o cotidiano e sobre os assuntos estudados;
ü  Procura ser criativa, mas foca mais no desenvolvimento das atividades nas quais tem a certeza de que funcionam para alfabetizar os estudantes;
ü  Os estudantes que atendem são muito pequenos (1º ano), mas são estimulados a participar dos eventos da escola;
ü  Não desenvolve projetos de trabalho. Há 12 anos atende crianças em idade de alfabetização e se preocupa mais em desenvolver a leitura e a escrita. Mas são realizadas atividades de Arte uma vez por semana e fotografa todas as participações dos seus estudantes em eventos na escola;
ü  Para avaliar os estudantes é feito ditado, prova, avalia caderno, tarefa de casa e também o comportamento (valorização do estudante quietinho).

Quadro 1 -  Roteiro de entrevista estruturado
Relatando experiências vividas no exercício da docência

A) Roteiro para orientar a condução de uma entrevista com um/uma professor/a do ensino fundamental

1º momento: Realizar a entrevista com um/a professor/a do ensino fundamental.

Sugestões de questões para desenvolver sua entrevista:

1.   Como você faz para planejar suas aulas?  Quais materiais didáticos são essenciais para desenvolvimento de uma boa aula?
As aulas são preparadas de acordo com o nível que os alunos estão e com a sequência de conteúdos planejados para o ano letivo. O planejamento anual está de acordo com o Projeto Político Pedagógico da escola e com os Parâmetros Curriculares Nacionais.
Para desenvolver as aulas com qualidade necessito de materiais simples, como folhas xerocadas, caderno, quadro e giz. Como estão no primeiro ano, trabalho primeiro com a utilização de folhas xerocadas ou de estêncil e vou ensinando a usar o caderno. Aos poucos já aprendem a usar a linha e copiam do quadro.
Sei que há uma grande variedade de material, como jogos pedagógicos, mas utilizo mesmo é a alfabetização com  leitura e escrita e isso tem dado certo. Na escola os alunos participam de aulas de informática e também assistem filme  na sala de aula.

2.   Sua prática didática oportuniza aos estudantes exercitarem o espírito, investigativo, crítico e criativo?  Exemplifique:
Como trabalho com alfabetização, preocupo mais em desenvolver as competências de leitura e escrita. Acho que se os alunos souberem ler com proficiência vão ser capazes de desenvolver espírito, investigativo, crítico e criativo. Por exemplo, se o aluno não for bem alfabetizado vai ter dificuldade em entender o que está escrito, não vai compreender as notícias que lê, não vai conseguir escrever com competência para reivindicar seus direitos, por exemplo.
Quanto a criatividade, estimulo a produção de artes. Todas as semanas fazemos uma atividade de arte com colagem, pintura e outros materiais que os alunos trazem.

3.   Você se considera um/a professor/a criativo/a/crítico/a.
Para alfabetizar todo ano uma turma de 30 a 35 alunos tem que ser muito criativo. Em relação a ser crítico, acho que todo professor é um pouco, mas não sou muito envolvida com questões políticas. Sei o que precisa melhorar e faço o que eu posso para desenvolver bem o meu trabalho.

4.   Você estimula os/as estudantes a participarem de movimentos estudantis, a reivindicarem e se mobilizarem por melhores condições escolares e/ou outros. Exemplifique:
Meus alunos ainda são muito pequenos e não participam de movimentos estudantis. Quando tem algum evento na escola, como mobilização no Dia da Água, Meio Ambiente e desfile da escola, eles são convidados a participar junto com a escola ou a pelo menos assistir. Já nas datas comemorativa todos eles são incentivados a participar. Por exemplo, no Dia das Mães, aniversário da escola, todos os que querem e que os pais autorizam participam das apresentações.
 
5.   Você já desenvolveu projetos de trabalhos relevantes (nos diferentes conteúdos do ensino fundamental) pesquisas, passeios, vivências coletivas inovadoras dentre outras (usando fotografias, contação de histórias, poesias, músicas, dança, cinema, filmes, pinturas etc), conte como foi viver essa experiência como docente e com os estudantes. Com qual frequência faz estas atividades?
Não desenvolvo projetos de trabalho e sou mais focada na alfabetização dos meus alunos. Desde o início do ano desenvolvo uma sequência de atividades para que eles aprendam a ler e a escrever e geralmente todos são alfabetizados com sucesso.
Na sala de aula tem exposição de filmes para eles assistirem de vez em quando. Geralmente isso ocorre de 15 em 15 dias e os filmes são eles que trazem.
Eu fotografo todas as apresentações que fazem na escola. Tenho várias fotos das minhas turmas e eles sempre gostam de ver as fotografias. Alguns pais também pegam para fazer cópia porque não tem câmera para tirar.

6.   Se você já realizou projetos de trabalho como fez para avaliar a participação dos estudantes?
Não fiz projetos. Pode ser que nos próximos anos eu venha a desenvolver algum, mas por enquanto só fiz projetos na faculdade. Sei da importância de projetos e reconheço que podem contribuir para a formação dos alunos, mas no primeiro ano prefiro trabalhar apenas com as atividades de alfabetização. Se os alunos anão forem bem alfabetizados terá dificuldades nos próximos anos.

7.   Quais são as formas de registros que são mais valorizadas na avaliação dos estudantes?
Todas as formas de registro são valorizadas, inclusive a prova escrita. O que eu mais valorizo é o caderno e a produção diária, tanto em casa como na escola.










Rótulo_Pedagogia

Disciplina: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM
Professora: Márcia Ambrósio Rodrigues Rezende


Continuando a 3ª ação de atividade do portfólio de aprendizagem

Fazendo as reflexões sobre os dados da entrevista

  momento:
Após fazer a entrevista com o/a professor/a e registrá-la faça uma reflexão da mesma a partir das seguintes questões:

1.   Faça reflexões sobre o planejamento da aula, os materiais didáticos, projetos de trabalho (nos diferentes conteúdos do ensino fundamental) pesquisas, passeios, vivências coletivas inovadoras dentre outras (se usa fotografias (e como usa), contação de histórias, poesias, músicas, dança, cinema, filmes, pinturas etc), se há uma participação democrática dos estudantes e quais são as formas de registros mais valorizadas  na avaliação dos estudantes. Se o/a professor/a usa o portfólio como estratégia avaliativa de forma correta (para mostrar o caminho do conhecimento e promover as aprendizagens?).
2.   Você considera que a vivência do/a professor/a entrevistado/a oportunizou a ele/a e às/aos estudantes exercitarem o espírito crítico e criativo?  (Dê pelo menos um exemplo de situação em que isso ocorre).
3.   Que/quais características ele/ela possui que o/a faz ser definido como um/a professor/a investigativo/investigativa?
4.   Quais características você considera que este/esta professor/a  ainda precisa desenvolver  para tornar-se um/a professor/a investigador/a ou professor/a reflexivo/a?



ENTREVISTA COM DOCENTE: ALGUMAS REFLEXÕES

Conhecer a prática pedagógica de docentes que atuam na realidade escolar do município tem sido oportunizado no curso de Pedagogia da Universidade Federal de Ouro Preto, CEAD/UAB, não apenas através das disciplinas de Estágio, como também por meio de pesquisas e busca por parcerias para o planejamento e a execução de projetos. Essa experiência tem possibilitado reflexões pautadas nos estudos realizados durante o curso, como ocorre na atividade proposta pela Professora Dra. Márcia Ambrósio, que sugeriu um roteiro de entrevistas como instrumento de coleta de dados e instigou à reflexão sobre os mesmos. Desse modo, mais que coletar dados, a entrevista possibilitou reflexão e construção do conhecimento.
Tendo como base a teoria já estudada e em estudo durante o curso, especialmente a partir de autoras como Ambrósio (2013) e Ângela Dalben, foi possível construir uma reflexão acerca dos dados obtidos e fazer uma análise da prática pedagógica que se pretende construir, enquanto futuro pedagogo.  Sendo assim, constatou-se que a docente entrevistada baseia sua prática pedagógica na experiência construída em anos anteriores e, apesar de situar o seu planejamento dentro de um referencial (Projeto Político Pedagógico) e de reconhecer as orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais, a educadora afirma que dá preferência às atividades já construídas para turmas anteriores, as quais são aplicadas de acordo com “o nível” da turma. Apesar de destacar que isso tem funcionado muito bem e que os aprendizes são alfabetizados rapidamente, essa atitude instiga à reflexão sobre a formação integral do estudante, que certamente engloba mais que dominar o código da língua escrita. Além do mais, os sujeitos atendidos são diferentes e o contexto histórico e social também sofre transformações, requerendo do professor, pesquisa e conhecimento da realidade e necessidades dos estudantes. Neste sentido, Ambrósio (2013) destaca a necessidade da criação de uma relação pedagógica que promova uma prática didática em que os estudantes possam participar, trazendo ideias para o processo ensino e aprendizagem. Segundo Perrenoud e Candau (2000, apud AMBRÓSIO, 2013, p. 37) “diferenciar o trabalho pedagógico significa romper com a pedagogia frontal: o mesmo conteúdo, as mesmas atividades para todos”.
A despeito da utilização de recursos como filmes e registro fotográfico, há poucas evidências de intencionalidade por parte da docente. Os filmes são apresentados como momentos de descontração, com escolha pelos próprios estudantes, que trazem os filmes para exibição. Não há evidências de que haja planejamento específico para essa atividade, tampouco discussão e análise do mesmo. Em relação à fotografia, prática constante da professora em eventos comemorativos, o registro poderia ser mais bem aproveitado, inclusive em um projeto de trabalho  voltado para a construção da identidade, estímulo à auto-estima positiva e também como forma de registro do desenvolvimento desses estudantes. Contudo, ainda que relate o quanto os estudantes gostem da fotografia, elas permanecem guardadas, e não são vislumbradas como possibilidades de construção do conhecimento, o que constitui um equívoco, pois na perspectiva de  Schon (2000, apud AMBRÓSIO, 2013 p.134) a fotografia “constrói um significado, apresenta uma história e seu tratamento, sua composição em álbum aponta o conhecimento na ação-reflexão e de reflexão-na-ação, oportunidade formativa para conhecer e produzir memória”.
Ao relatar que prefere não realizar projetos e nunca utilizou portfólios, a professora destaca que são recursos conhecidos por ela e que reconhece a sua importância. Porém, como ocorreu durante toda a sua entrevista, reafirma que se preocupa com a aquisição e desenvolvimento das competências necessárias para a alfabetização, destacando que acredita que seu papel é garantir que os estudantes aprendam a ler e escrever com proficiência. Essa preocupação demonstra a responsabilidade da docente com seus estudantes e evidencia o quanto valoriza a realização de uma prática centrada em um objetivo. Contudo, é possível aliar o seu objetivo central a outras conquistas, como a formação cidadã do indivíduo, a construção de identidade positiva, enfim, a uma formação integral do estudante. Como reflexo de uma prática linear e centralizada em ações já conhecidas, a professora prefere utilizar uma avaliação sem grandes inovações. Apesar de destacar o quanto valoriza o processo de desenvolvimento das atividades e não apenas a prova escrita, a professora ainda está centrada em uma avaliação de resultados, que não instiga o estudante a desenvolver uma ação reflexiva, re-fazer e se autoavaliar. Para Ambrósio (2013) são essas as característica da avaliação formativa, que em contrapartida à avaliação tradicional, permite e incentiva o estudante a construir conhecimento durante o processo avaliativo.
Apesar de não utilizar portfólio como recurso avaliativo, seria interessante se a professora incorporasse esse recurso em sua prática pedagógica. Além de diversificar a avaliação, seria uma importante oportunidade de renovar sua prática pedagógica, como afirma Ambrósio:
Portfólio de aprendizagem pode ser uma ferramenta pedagógica que permite a utilização de uma metodologia diferencia e diversificada de monitoramento e avaliação do processo de ensino e aprendizagem não desviando a atenção da carga e efeitos inerentes a situação de aprendizagem. O uso de portfólios de aprendizagem dá relevância e visibilidade ao processo formativo de aquisição e desenvolvimento de competências. (...) Possibilita a compreensão tanto da complexidade como das  dinâmicas inerentes ao crescimento do saber pessoal. Valoriza e fomenta a reflexão sobre a aprendizagem. ((2013, p. 24)

Desse modo, ao incorporar o uso do portfólio em sua prática, certamente haveria novas possibilidades de construção do conhecimento sem haver nenhum prejuízo para os objetivos já traçados pela professora, contribuindo para que se tornasse efetivamente, uma professora investigativa. Segundo Dalben (apud AMBRÓSIO, 2013), esse novo formato avaliativo exigiria da docente uma relação diferente com o conhecimento, pois esse novo conceito de avaliação defende uma perspectiva interativa entre professor, aluno e conhecimento. Assim a avaliação estaria direcionada para um processo de investigação contínua e dinâmica da relação pedagógica como um todo.



G) BIBLIOGRAFIA


ALVAREZ LEITE, L. H. O planejamento em ação: os desafios da intervenção pedagógica. Disponível em: http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/index.asp?id_projeto=27&ID_OBJETO=32404&tipo=ob&cp=000000&cb> acesso em 22.01.2012

AMBRÓSIO, Márcia. O uso do portfólio no ensino superior. Petrópolis:Vozes, 2013.(Capítulo 1, 2 e 3).

DALBEN, Ângela Imaculada Loureiro de Freitas. A relação pedagógica. Disponível em: <http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/index.asp?id_projeto=27&ID_OBJETO=32404&tipo=ob&cp=000000&cb> acesso em 24. 01.2012

DALBEN, Ângela Imaculada Loureiro de Freitas. Avaliação da aprendizagem:  operacionalização. Disponível em: <http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/index.asp?id_projeto=27&ID_OBJETO=32404&tipo=ob&cp=000000&cb> acesso em 02. 02.2012

REZENDE, Márcia Ambrósio Rodrigues. A relação pedagógica e a avaliação no espelho do portfólio: memórias docente e discente. 2010. 278f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Educação. Belo Horizonte.
Disponível em:
REZENDE, Márcia Ambrósio Rodrigues. Registros Escolares: o rompimento da ordem.. In: REZENDE. M. A. R. A relação/registro no ciclo da juventude: limites e possibilidades na construção de uma prática educativa inovadora. 2004.318f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação da UFMG. Belo Horizonte.


Outras sugestões de leituras sobre o assunto:
Livro 1 - Avaliação formativa: práticas inovadoras - (Benigna Maria Villas Boas/Org.)
Livro 2 - Portfólio, avaliação e trabalho pedagógico - (Benigna Maria Villas Boas/Org.)
Capítulo do livro:
Porta-fólios: no fluir das concepções, das metodologias e dos instrumentos ( Idália Sá-Chaves)
Capítulo de livro:
Porta-fólios: um instrumento de avaliação de processos de formação, investigação e intervenção (Carolina Sousa)
Ver referência completa no plano de ensino da disciplina




[1] Roteiro de observação sugerido pela Professora Jane Maland Candy, no curso de “Métodos Qualitativos na Avaliação Educacional em abril de 2001” (AMBRÓSIO, 2013).


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